O frio e a chuva da noite da terça-feira (24) não tiraram o brilho da primeira discussão para compor os temas da pauta do Encontro Internacional de Educação, que poderá reunir até dez mil pessoas, entre os dias 9 e 12 de novembro, em Gravataí. Na etapa que começou agora, ocorre a participação mais efetiva das representações dispostas a contribuírem com sugestões para o grande debate que vai acontecer no final do ano, no Parque Municipal de Eventos. O painel “Educação e Diversidade” contou com as presenças de Franquilina Marques Cardoso, do Grupo de Educadores pela Igualdade Racial; de Isidoro de Souza Reses, coordenador geral do Grupo Outra Visão de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros; e de Santos Fagundes, do Centro de Integração Paulo Paim. A atividade coordenada pela secretária municipal de Educação, Romi Leffa Cardoso, reuniu 40 convidados durante duas horas no Cine-teatro municipal.Na avaliação da Secretária, o objetivo do EIE 2005 começa a ser alcançado na medida em que consegue constituir um espaço de diálogo entre educadores e instituições, governamentais e não-governamentais, movimentos sociais, escolas e universidades para refletir e apresentar subsídios visando a construção de alternativas para a Educação Básica no Brasil e países do Terceiro Mundo, especialmente Latino-Americanos e da África. Romi ressalta que a sistemática adotada, facilitando a participação de educadores e instituições, através de ações públicas, vai promover debates e reflexões sobre os temas do Encontro. O EIE-2005 foi criado a partir de uma proposta conjunta entre a Prefeitura de Gravataí, o Ministério da Educação, o INEP, e o Instituto Integrar do RS, além de dezenas de entidades, lembrou a secretária da Educação de Gravataí. DIVERSIDADE – “A sociedade é diversa, desigual”. Com esta expressão, Franquilina Marques Cardoso definiu não apenas o comportamento das pessoas em torno da discriminação racial, mas das diversas manifestações, que começam até mesmo na aparência física. Franquilina, que é Orientadora Educacional, especialista na cultura afro-brasileira e responsável pela operacionalização da Lei 10.639/2003, que inclui nas diretrizes curriculares a educação das religiões étnicos raciais no ensino de história e cultura afro-brasileira e africana, defende a continuidade da luta pela reivindicação do respeito humano. Franquilina acredita que com o diálogo nas escolas o quadro de desigualdades poderá ser revertido. Quanto à situação do negro do Brasil, a oradora citou períodos da história do país que demarcavam a discriminação de forma oficial, sem qualquer disfarce. “Por isso enfrentamos certas diferenças até hoje”, disse Franquilina. ”Por mais que se diga o contrário, é real o fato de que as mulheres negras, no Brasil, recebem de salário, em muitos casos, a metade do que recebem mulheres de outras etnias, sem contar o aspecto da capacidade”, frisou ela ao comentar, ainda, o índice alarmante da mortalidade infantil que tem o negro como maior vítima. “De cada mil crianças negras nascidas no Brasil, 66 morrem antes de completar um ano de vida”, salientou. DEFICIÊNCIA – O estudante de Ciências Sociais da Ulbra/Canoas, Santos Fagundes, foi o segundo painelista da noite. Com 20 anos de trabalho no Movimento Nacional das Pessoas com Deficiência e coordenador nacional do Estatuto da Pessoa com Deficiência, Santos Fagundes colocou o próprio testemunho para exemplificar as dificuldades enfrentadas por pessoas portadoras de deficiência. Cego desde a adolescência, ele acusa o sistema como culpado por não poder estudar numa escola regular, mesmo provando que tinha aptidão e capacidade intelectual para freqüentar os bancos escolares. Presidente da Associação Escola dos Deficientes Visuais do Vale do Caí, Santos Fagundes relatou a maior parte da juventude teve como única opção voltar ao trabalho na roça. Disse que era um exímio classificador de grãos, ajudando o pai na preparação das lavouras de milho, feijão e moranga. Prova de que ele é uma pessoa capaz está no fato de poder chefiar o gabinete do Senador Paulo Paim no Rio Grande do Sul e participar de palestras em diversos estados do Brasil representando o Centro de Integração Paulo Paim, que é um organismo de articulação de políticas sociais junto aos movimentos sociais e de políticas de inclusão. Seus principais trabalhos estão diretamente ligados aos estatutos da igualdade racial, do idoso e o das pessoas com deficiência. A falta de previsão de espaços para pessoas portadoras de necessidades especiais, bem como as oportunidades de trabalho estão longe de serem as mesmas em relação aos “normais”, conclui Fagundes.SEXUALIDADE – A palavra de Isidoro de Souza Reses abordou a questão da livre orientação e expressão sexual. O coordenador geral do Grupo Outra Visão de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros foi convidado por sua atuação na área de direitos humanos há quatro anos. Integrando uma entidade ligada à Associação Internacional da América Latina e Caribe, de Lésbicas, Gays e Transgêneros, Isidoro é um dos organizadores da Parada Gay que este ano defende o tema “Direitos iguais, nem menos, nem mais”.Ele denuncia que é comum o fato de uma pessoa não aceitar a outra, vendo diferenças a partir da fisionomia. Fazendo referências históricas e até bíblicas, Isidoro mostrou argumentos para legitimar a atração entre iguais. Para ele, não há dúvida de que a questão merece um amplo debate e deva ser levada às escolas. Defendendo a livre orientação e expressão sexual, o painelista acredita que, a exemplo de outras formas de discriminação e tabus, também a questão da sexualidade precisa ser tratada pelos educadores. Isidoro enfatizou que superação dos gestos discriminatórios requer políticas públicas e ações concretas, que deixem o papel e a simples discussão para se tornar uma prática.OPINIÕES – A realização do painel facilita a participação de educadores e instituições em torno de reflexões que se somam para criar a pauta do EIE-2005. Na opinião da professora Janete Jachetti, do Movimento Paulo Freire, “o preconceito que está enraizado na nossa cultura precisa, mais do que nunca, de um debate que necessariamente passa pela escola”. Maria da Graça Pereira, da Escola Municipal Presidente João Goulart, mostrou-se preocupada com a necessidade de se aprimorar a formação para o debate de questões tão polêmicas como estas levantadas. A professora Maria Eusébia Marques, da Escola Estadual Antônio Gomes Corrêa, destacou que as múltiplas atividades e a remuneração do professor nem sempre o motiva a enfrentar situações para as quais não está preparado. Ela citou, entretanto, que de algum tempo pra cá a sua unidade de ensino sabe acolher alunos portadores de alguma deficiência. “Um exemplo está com um cadeirante, que tem toda a solidariedade na escola”, completou. PRÓXIMOS - A Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de Gravataí, estará coordenando, ainda, a realização de mais quatro painéis. No dia 31 de maio, “Educação e Meio Ambiente” será o tema da pauta no Colégio Barbosa Rodrigues, às 19h. Depois, será a vez do tema “Ser Educador”, que terá como palco o Colégio Cenecista Nossa Senhora dos Anjos, na noite de 14 de junho. “O financiamento público da Educação” será o foco da discussão no painel do dia 21 de junho, no Colégio Barbosa Rodrigues. E, concluindo, “Educação, Desenvolvimento e Paz”, no painel marcado para o dia 28 de junho, no Cine-teatro municipal. Todas as sugestões, teses e outras manifestações encaminhadas via e-mail (eie2005@gravatai.rs.gov.br) à Secretaria Executiva, até o dia 30 de junho, serão sistematizadas de forma a contemplar as expectativas do público que virá ao EIE-2005. As propostas definidas farão parte do programa a ser oficializado na primeira quinzena de agosto.
27/05/05 - 17h10min
27/05/05 - 17h10min
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